25.1.08

E os pães?

Morreu ontem o Xavier da padaria. Estava já há tempos adoentado, ou pelo menos era o que diziam. Não saia mais, a padaria estava às mínguas. Abria por poucas horas e com pães duros como pedra. Parecia que alguém andava tentando fazê-los, mas não saiam como deveria. Eu sentia falta dos seus pães, talvez alguma falta das curtas conversas que tínhamos ao final da tarde. Morava ele sozinho, nada de filhos, esposa, nenhum parente. Tinha lá um cachorro, cujo nome não me lembro agora. Era um vira-lata esperto. Quando da morte do dono, latiu durante pelo menos uma hora e meia em plena madrugada, e, como não parava, um dos vizinhos bateu à porta. Não sei direito como, mas entraram, o sujeito junto de um amigo, e lá estava Xavier, na cama, morto. Depois dos boatos, acabei descobrindo, Febre Amarela. E os pães? Foram-se junto.

Um comentário:

Danilo Brito Steckelberg disse...

Um bom texto...bem contextualizado.

Já disse e reafirmo... gosto do seu estilo de escrita.

só uma crítica construtiva...
"Estava já a tempos adoentado" deveria ser "Estava já há tempos adoentado", do verbo haver